Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Rapariga Standby 3

Bateu sem ritmo, um descompasso a nó de mão glacial, o desconhecido tremendo fazia-se anunciar. Ela inspirou forte, lançou os fios de cabelos para trás das costas e fechou por momentos os olhos. Abriu a porta devagar para não se atraiçoar na pressa. Ele e Ela, olhos de regalo ao primário mirar. Respirar oprimo, partilharam o impulso num olá profundo, os sorrisos iluminaram-se, ele a contemplou, a um Miró a emoldurou, ela o admirou ao som de If I ever lose my faith in you, cantado a Sting. Entrou com afogo, agitado por dentro, constrangido por fora, um medo terrível de errar preencheu-lhe a intenção. Achou que falar do frio seria um excelente começo, mas percebeu o crasso, qual frio, queria no fundo abanar-se pelo calor que lhe subia pelo peito, pelas costas até à nuca, onde se sentiu suar, ela era linda e continuava sorridente, um sorriso anexo a um olhar mortífero que o atrapalhava. Vislumbrava-a altiva, segura e mordaz, aquela atitude percebera-se ao vê-lo inseguro, ele se desmembrou, não sabia se haveria de esconder as mãos ou mesmo todos os membros. Acalmou a ansiedade na oferta de um copo de vinho tinto. A cada trago de Poeira Douro relaxava pressentimentos e a conversa fluíra.

Sentaram-se na meticulosa mesa preparada, ao repasto atiçaram papilas, degustaram sabores e palavras ornamentadas e já no sofá prolongaram sinónimos e antónimos de quem escaldantes desejos tem. Enrolaram-se ali mesmo, naquele sofá rato, beijaram-se sôfregos, atrapalharam-se na mistura lasciva de tenções há muito aguardadas e caíram no chão que nem dois troncos cortados pela força de um machado. Iniciou o embuste aos trajes já repuxados e frouxos, lassos por tamanhos amassos, arrojaram os corpos sedentos pelas tábuas envernizadas e sucumbiram-se na larga cama de lençóis tenros. E beijaram-se sem tempo, sem termino imposto, beijaram-se, decaparam a saliva as peles pantanosas, beijaram-se e beberam-se, encharcaram-se de tesão na intenção do cume supremo... Mas não, não passou da confirmação, do susto que se previa, nada acontecia, ele não conseguia, a cama ali se perdia, morto ficou, vivo não voltou, transfigurou, sobre o ar de graça abatera-se a desgraça, sem graça alguma ela moralizou, haveria razões que a própria razão armada a certa desconhecia.

Lamentaram, levantaram esteira, sem eira nem beira. Talvez, quem sabe, talvez um outro dia.

17 comentários:

  1. Cabra,


    Tantos caminhos se percorrem, são tantos os becos que so se confirmam ao vivê los, mas, uma coisa dou te por certo, a vivência, essa, é impagável.

    Valeu bem a pena a espera. . .


    Continuo a ler . . .

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  2. como sempre, surpreendes me pela positiva, grande, mas grande final.

    És grande minha Cabra

    beijos fabulosos em ti

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  3. fuiiiiii! isto está mt literário para eu me meter ctigo! prá próxima vou ver se te pego por esses cornos brancos! beijo!

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  4. Cabra:

    gosto muito de te ler. Gostava de ir para a cama contigo!

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  5. Belíssima história de final surpreendente em cumes escalados.

    Beijo bem ao jeito do Everest

    :)

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  6. Cabra,

    Visto que a Joana Matias quer ir para a cama contigo venho te perguntar se nao poderei eu ir para a cama com ela, é que tb adorei lê la. . .

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  7. Quero agradecer a todos os quantos seguiram e comentaram a "rapariga standby" não faz o meu estilo post´s tão longos, sei que não há tempo para postagens de mais de meio metro!
    Ainda assim, com o vosso apoio sei que conseguirei segurar a vossa atenção/dedicação/CARINHO!

    Obrigada do fundo deste meu coração
    Beijo-vos a todos sem excepção, agora quanto a cama é outros 500


    A vossa CABRA.

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  8. Pode não ser o teu estilo ... mas está mt bom!
    Faz nos desejar que talvez um dia consigas reescrever este final!

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  9. Viciado, rescrever... seria bom rescrever certos finais.

    Beijo-TE

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  10. Podem leigos não ter encontrado graça! Podem homens pequeninos nem se identificar, dizendo que másculos eles são apenas e nada mais do que isso!
    Mas os amantes, os românticos, os verdadeiros apreciadores de vida, já terem sentido na pele o quão incómodo se pode tornar uma situação dessas...
    Serei eu um bom amante? Serei eu um mero mortal que ousa procurar e abraçar todas as alegrias que a vida me pode dar?
    Julgo sim ser um deles...

    Bianca, se há bem escrever, por vezes um pouco abstrato, mas lindo de imaginar, é este!
    Parabéns, lindo, lindo, lindo está!

    Beijo

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  11. Vulcano, serás o que as tuas mulheres acharem de ti meu Vulcano.

    E obrigada por achares lindo,lindo,lindo ainda que abstracta o meu escrever.

    Beijo

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  12. Final diferente este... na blogosfera vermelha.

    Mas como este blog é arco-íris e está bem ligado à terra, diria que... é um fiel retrato recorrente.

    Ps: excepção feita a mercenários da arte fodenga

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    1. Foxos, ser diferente, quando pela positiva, é por si só tão bom!
      Aqui esta blogosfera tem cores mediante os dias, tem dias, portanto...

      Quanto ao final, fiel ou infiel retrato, é o que é! Há que saber gerir todas as situações, isso é experiência de vida ou saber viver.

      Beijo-te

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