Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O homem das calças amarelas


Encharcado pelo pensamento, entrava no ginásio já suado pelo prazer de a avistar. Tentava controlar o físico agitado antes de colocar o pé no patamar da entrada, ordenava-se, ditava calma à respiração e exigia ordem às ideia, mas era impossível, como uma avalanche derramava corpo pela escadaria até à recepção. Ali, defronte a ela, os segundos de espera à entrega da garrafa de água para tragar durante o treino, eram como horas de contemplação. Era ela, sentia-a, desejava-a como sua, emaranhada em si, escorrendo-se pelo seu corpo imenso, como a toalha que trazia agora enrolada, envolta ao seu pescoço largo.

Seguia para o balneário com um sorriso quase dominador, guardava o saco no cacifo e sonhava com a nova passagem pela recepção antes de subir para a sala de treino. Pensava que passaria por ela, ainda que soubesse que a musa nem repararia nele e nem um vago olhar lhe dedicaria. Cobiçava-a com desejo, como nunca outrora tinha invejado alguma.

Enfiado nas suas calças de treino amarelas, marchou lento diante ao balcão, mais vagaroso subiu cada degrau, como se de íngremes montanhas se tratassem, achando que o amarelo das suas pernas a enchesse de luz, como um raio de sol naquele início nocturno. Mas ela, ela não se encandeou e seus olhos não içou, nem quanto mais um único membro ou sequer cabelo movimentou.

Completou a subida, no piso superior contemplou a sala, esta ajeitada de corpos trabalhados, físicos suados, homens ávidos por traços esculpidos. E dirigiu-se à máquina, aquela que lhe parecia ir roubar todas as suas valentias, a que lhe sacaria as forças e renderia resistência ignorada. Espumava pela insignificância declarada, gritava a cada grama de ferro acrescentada, mas nada o livrara de a saber lá, lá em baixo, de pensar nela, sentada na recepção mirada.

Agarrou-se aos halteres e fez mais dúzia de repetições, o suor gotejava na testa como pingas de água que escorrem pelos vidros em dia de temporal.

E ela subiu à sala, ele sentiu-se fraquejar, direcionava-se a ele, seria a ele, questionou-se, um tremor invadiu a sua musculatura, os braços caíram, as mão com os halteres perderam a firmeza e as pernas o equilíbrio.

(continua)


12 comentários:

  1. Minha Cabra Amiga,
    Ao vir aqui pastar deparei-me com um texto com tanto músculo e exercício, que até estou cansado...
    Por isso...

    Beijos com mostarda
    Voltarei
    A.M.

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    1. Nada que um bom bife na pedra não te fortaleça, querido Aurélio Marcolino!

      Beijos com maionese.
      Volta!

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  2. Ha muito que nao vinha ao teu cantinho e é sempre bom voltar aqui

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    1. Mister Charmoso, há quanto... Anda, volta escrevo também para ti.
      Obrigada por este mimo.
      Beijo

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  3. Bianca, Bianca,

    E se de amor houvesse duvidas de se tratar, nesta introduão ficou bem claro...
    O amor está no ar, teu, ou do teu imaginário.
    Bem pensado, um amor no ginásio!
    Quero saber onde parará este paixão tão singular!
    Ele vai-se perder na tenatação e falar-lhe?
    Aguardo... o resto!

    Beijo grande

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    1. Vulcano, o amor é lindo, mais ainda quando temos amor por imaginação,hummm tão bom!

      Beijo grande para ti.

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  4. Cá para mim vai dizer-lhe que tem a mensalidade em atraso... Beijoca!

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    1. Rafeiro Perfumado, era! Mas como já disseste tenho de puxar pela minha imaginação! :)

      Beijo lambido

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  5. Sitaução de algum embaraço mental ( a dele) exercitando o corpo sem se apreceber que em gestos mundanos fortalece a mente.

    Continuando a ver o fisico a trabalhar.

    O gajo que anda sempre descalço

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    1. "gestos mundanos". Exercitar o corpo é algo paranormal? :)

      Bora lá VER o físico a trabalhar!

      Beijo gajo descalço.

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