Envolta em amargura saiu para a rua. Admitia-se sem enchimento.
Não transbordava qualquer tipo de sentimento, nem dor, nem admiração,
sofrimento ou imensidão. Consentia fel, num pisava de calçada usada, que até achou
muito para si. Ansiou um carreiro de pó terra ou uma areia fina e húmida em carícia
pelos pés. Entristeceu, era cidade, o que se tinha como simples caminhar, era aquela
calçada coçada.
Aceitava-se como uma bica pouco escura, pouco quente e bastante
amarga, que num trago a engoliria sem protesto ou registo num livro de
reclamação. Que haveria por insurgir? Como um bolo sem direito a recheio, um
pastel sem camarão, umas pipocas sem açúcar ou sal, a quem assiste um filme que não é seu. Convencia-se sem persuasão de que
jamais seria o dela. Uma fita crua, que não satisfazia os mais ínfimos desejos
queridos, não enquadrava e muito menos abrangeria um pouco do melhor de todos.
Voltou a casa, julgando-se suada por um suor sem odor, sem mancha
amarelada, não emanava satisfação, alegria ou tristeza. Teria coração? Batia-lhe sim, sem grande convicção.
Sentou-se sobre uma caixa vazia, olhou sem emoção pelos dois minutos em falta para um fim. O programa da máquina da roupa suja parou, suou o som, leu-se FIM.