Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.
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terça-feira, 25 de junho de 2013

Pisar


Envolta em amargura saiu para a rua. Admitia-se sem enchimento.
Não transbordava qualquer tipo de sentimento, nem dor, nem admiração, sofrimento ou imensidão. Consentia fel, num pisava de calçada usada, que até achou muito para si. Ansiou um carreiro de pó terra ou uma areia fina e húmida em carícia pelos pés. Entristeceu, era cidade, o que se tinha como simples caminhar, era aquela calçada coçada.
Aceitava-se como uma bica pouco escura, pouco quente e bastante amarga, que num trago a engoliria sem protesto ou registo num livro de reclamação. Que haveria por insurgir? Como um bolo sem direito a recheio, um pastel sem camarão, umas pipocas sem açúcar ou sal, a quem assiste um filme que não é seu. Convencia-se sem persuasão de que jamais seria o dela. Uma fita crua, que não satisfazia os mais ínfimos desejos queridos, não enquadrava e muito menos  abrangeria um pouco do melhor de todos.
Voltou a casa, julgando-se suada por um suor sem odor, sem mancha amarelada, não emanava satisfação, alegria ou tristeza. Teria coração? Batia-lhe sim, sem grande convicção.
Sentou-se sobre uma caixa vazia, olhou sem emoção pelos  dois minutos em falta para um fim. O programa da máquina da roupa suja parou, suou o som, leu-se FIM.
 

domingo, 16 de junho de 2013

Brainstorm



Como era bom perder-me, desaparecer dentro de ti, como quem larga a mão de um alguém depois de um profundo respirar e entrou. Entrou nesse teu avesso, onde só se escuta o teu respirar e se vê essa tua forma que é de verdade amar. No teu olhar nada vi, agora, aqui dentro de ti, nesta sombra de teus fígados, nada é obscuro e debaixo do teu coração melódico o ritmo é outro, é de um chegar distante é  de um partir longínquo. E da parte de dentro dos vidros do teu olhar, nem imaginas o colorido que há, do que não está aí, desse lado de lá. Estranho por ti, porque tu nunca soubeste que tipo de noite te habita, se das escuras ou das luminosas por um luar. Colora esse teu olhar e escuta, não desapareças feito louco sem respirar!  A luz desconhecida aproximar-se-à e as tuas mãos enrolarão num sorriso que virá de dentro, daqui deste teu oposto. E essa angustia desaparecerá e que bom corar...


Acho estranho porque tu nunca soubeste.


quinta-feira, 13 de junho de 2013

seTENTA






00:39, marcava como um contador de divida, no relógio em repouso sobre a pilha de revistas que fazia de cabeceira naquele quarto interior. Era noite de Santo António, o casamenteiro. Lembrou-se que se esquecera no entretanto da vida de se casar. Elevou a cabeça 4 cm da almofada e com algum esforço esticou o braço ao meio copo com água perecido  na extremidade encaracolada da revista Vogue já com alguns anos de modas prescritas. Deu-lhe para a tosse no percurso da palha à boca e julgou que em lugar de matar a sede a sede da morte a sugaria primeiro através daquela palha parda e fétida em saliva por várias noites usada. “Calma”, retorqui, usando a expressão do louco, seu vizinho do lado, mais novo que ela cinco anos, mas bem mais emplastrado. Ainda assim, sentiu-se feliz, por sabê-lo a dormir do outro lado da parede e por a pílula do sono lhe ter feito efeito. Já não o ouvia, nem às ruidosas e porcas flatulências, as que ele sabia que a levava aos nervos acabando com os já poucos fios de cabelos brancos que lhe restavam colados ao couro, os outros, faleciam amontoados sobre o travesseiro de fronha amarelada. Pensou em chutar-se em mais meia dúzia de valerianas, mas achou por bem gozar mais uns minutos de vida. Respirou fundo e tragou dois valentes goles na palha, sentiu o líquido morno e contaminado, quase com embriões, pela garganta. Sorriu no pensar, "ainda fico grávida!" Riu e com o mesmo sorriso entrou naquele azul.

Achou que descera à terra poucos segundos depois de ter dado entrada nos céus, nunca o imaginou, ainda assim, tão burocrático. Mas teve alta para visitar o vale dos pouco vivos ao fim de tempo para si já impreciso. Não descansava em solo paradisíaco sem antes vislumbrar sua lápide terrena.
Confirmara com agrado que o cabrão do vizinho dera seguimento ao prometido e nela teve o prazer de ler:

"tenho-te no coração desde setembro de 2012, descansa em paz nesse agora tão nosso AZUL"
1972- 2042

   

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Qualquer coisa




Sete e cinco. Acordou em sobressalto ao som da porta do prédio. Saía para o trabalho a Sra. Qualquer coisa, que, religiosamente abalava para mais de 20 anos à mesma hora. Hoje saíra com 5 minutos de atraso.
Sete e cinco. Sentiu-o a seu lado, suado pela manta pesada que os cobria. Sobre a nudez dele, escorriam seus alegres pêlos junto ao peito. Ele estava feliz, apesar do abafo, o sorriso tatuado no rosto sereno denunciava o quanto não queria saber de calores. Estava afinal, onde nunca devia ter saido.
Sete e cinco. Só a sensação dela, afinal não passava de um prolongamento de um sonho matinal e já bem ao de leve, ali só estava um único corpo e a lembrança do cheiro a Denim dos anos noventa, que a fez esboçar um sorriso por cima da dor que sentia.
Levantou-se com a mão sobre o pescoço, doía-lhe mais do que gostaria. Abriu a bolsa das drogas e antes de qualquer outro alivio, encheu um copo com água e engoliu em esforço a pílula alaranjada. Hoje só o poderia mastigar, engolir seria imprudente  naquele estado doente.
No entanto atreveu-se a pensa-lo a dormir. Como estaria a dormir? Suado? não pela manta de lãs coloridas, mas quem sabe por um sonho fermentado a desejo? Mastigou esse pensar, travou um gole no café forte da manhã e pelo cheiro aromático pensou como o tragar.
Olhando pela janela que dava para as traseiras, falou alto, inteira e integra como sempre. “- Trago-te como que dentro de uma caixa de costura, em que as linhas se enrolam unidas num novelo de finas linhas coloridas, emaranhadas confusas e chatas! Na confusão alegre de cores, moram as traiçoeiras agulhas perdidas, prontas a espetar, piores que farpas de uma madeira antiga, robusta e maciça no meu sentimento fragilizado!”
Arrancou da dormência de o ter junto a si, sem esse existir de facto, nem sabendo ao certo se estaria ali mais do que um sentimento do pensar vir a ter um outro igual, num outro qualquer dia.
Sete e trinta e cinco. Saíu atrasada...


   

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

voz











A tua voz... lembra-me tudo o que és que eu não conheço, já tem um fim sem começo. Desejo deitar-te neste colchão, és um alguém que aquece a quem aqui está e te desconhece, mas espera delirante um tal belo amante. Todos sabem, sem medo, os que já foram, embora a nenhum lhes chegou um fim. Tu podes ser o meu império, promessa séria, entre quem te leva a este chão, sem magoar, uma e outra vez, mil vezes sem ilusão, quero ouvir essa voz, guarda-la em mim e perde-la tantas vezes e depois sempre a encontrar.
Pega em mim, eu não quero saber, eu não quero saber que estranho és. E sempre que venhas amante, tira-me, leva-me daqui e recorda que já vieste tantas outras vezes e viajaste quilómetros dentro do que sou. Se um dia tiver fim, não existe quem não se conhece, és alguém que volta sem nunca ter chegado a vir ou mesmo a partir.
Podes ser tudo, sem desculpas, altos ou baixos, não quero saber, só quero uma luz que não se apague, só quero mesmo cair neste colchão, percorrer um milhão... de mim.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mente com todo o pecado,

porque não passas de um pecador.


Mente. Acredita num dizer que em nada se assemelha a sombrio, nem esse abraço em nada vago ou que bafa a mofado por um tempo que não existiu. Mente-me. Esquece o amanhã, o agora abona, quer brilhar como um sol bichanando uma só palavra aldrabona. Mente-lhe. Diz-te de um amor cego, que talvez seja pesado, diz-lhe sem medos o que queres, agarra e mente, vagueia crente nessa tua mente que ludibria um bocado. Mente-te. A noite vai alta, tão alta que se pode cair, arrisca em pecado, não tarda dirás adeus. Mente-lhes. Agora beija-as, dizendo-lhes que não vais nesse escuro, pelo menos não nessa noite e estarás ao amanhecer, não serás uma palavra solteira que mente no olhar. Mentiu. Salvou o momento esquecendo o ontem, esse é o som do movimento lá fora que fez tombar a chuva da trovoada, naquela cama dedilhou de prazer em forma escabrosa de quem disse, “minto pelo esquecer do amanhã”. Minto-me.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

vontade efémera


o que fora o passado poucas razões deixara para lhe motivar o presente, certo era que o sentido perdera-se. Aguardou por ele como sendo um amor de futuro, privou-se de outros amores, passou a desconhecer a própria palavra – amor – e um dia ele chegou. Vinha carregado de mentiras, pois não tinha como mostrar a verdade, nem como enterrar o passado. E veio ele, disfarçado em posturas, igualado a um presente só com caixa embrulhada. Lá dentro, recheava-se a vazio, por incertezas do que se andava a fazer. O amor.
Estavam ali acreditados disso, sentados no centro da sala, num requintado restaurante, duas secas criaturas. Repastaram surdos, engoliram mudos, afinal não se conheciam, já mais se viram. Ainda assim à mesma mesa comiam vidas vagas, passadas, jantavam mágoas, naquela elegante mesa. A toalha, imaculadamente branca, tal como o prato, os talheres cintilavam espelhando dois rostos consumidos por uma espera iludida e os copos brilhavam do lustre passado pelo pano macio, o que os livrara de qualquer impressão digital. Nada se sentia ou fazia sentido, nada aquecia, nem deixava rasto, muito menos nódoa. Oooh como uma nódoa faria toda a diferença sobre o prezado requinte. O cuidado a mais a não ser magoado, um argumento pouco sujo, pouco lavrado, muito menos rubricado, nem a gordura, nem a um só odor ou suave aroma a amor... falhou, não morava, nunca morou, para quê o ter esperado? Arrogância, altivez, quem sabe uma enorme estupidez!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O perfeito assassino


“então começamos com a carta do ano para o ano inteiro: a morte; a mudança, algo se renova porque algo vai "morrer". A morte, a carta mais forte de todas, vais dar início a um novo ciclo, 2013 vais começar de novo!”
estou a ler a tua morte e sinto-a tão minha, quando ainda não me dera ao desplante de a pensar só para mim. Mas agora preciso dela, quero-a. EU quero a morte, desejo-a, com maior egoísmo a espero. Paciente aguardo-a a ser celebrada pelo meu perfeito assassino.
Estranho este sentimento que inauguro ao ler-te, quase que te escuto a sussurra-la em voz branda junto ao meu pescoço. Contas-me o que a morte nos conta - a morte - quando afinal ela ainda está tão estranhamente viva, com um desgaste imenso nas entranhas mas que vive num corpo ligado a uma máquina, e essa não se quer desligar para deixar a morte morrer de vez.

Que me contas tu desse fascínio de morte? Que me faz quere-la por tudo o que seja nosso? Será uma arrogância que roça à minha altivez moribunda? Saberia-a assim confortável, a morte, a minha, parecesse tanto com a minha...  Leio, tenho um calafrio de dor, quem sabe pelo frio ao esmiuçá-la, estarei a chocar morte? A abrir lugar a uma ferida fingida a cicatrizada, onde o vírus entra sem esforço e sorve de dentro para fora como um shot rude batido no final na madeira do balcão de um bar agonizante?

E escorre-me um lágrima pelo gosto de saber de tua morte, da viveres, uma morte tão demoradamente doce, que grita prazer de a sentir como tal, como a quem do corpo só caíram os pedaços de carne um dia árduos amados, que esses bocados já não mais fazem falta. E o ranho mancha-me as mangas do casaco de andar por casa ao assistir os quilómetros percorridos da capela onde velavas até ao chão onde serias aquecido pela terra e um dia esquecido pelo tempo.

Invejo-te agora, sabendo que a tua morte já é ela tua serva, e que te cose as feridas do corpo a linha rosa e ainda as pincela a desinfectante de amor que um dia será o eterno, ela que te abria rasgos num estado de demência, ela queria se ver espelhada na luminosidade do teu sangue, das feridas angustiadas que eram suas frustrações, afinal ela é a morte.
Esclareço-me no teu estado, aquele que um dia foi de defunto e apaixono-me por ti.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

azul


Nasci homem sem me aperceber que mulher seria ou terei nascido mulher? Escrevo do pouco do homem que sei e dalguma coisa de mulher que terei. Afinal, não serei nem homem nem mulher. O que escrevo, o que falo, é um acredito que acreditei, no homem que serás, na mulher que talvez serei. Tu que homem és, revela tudo o que quero saber, tudo sobre o que não saberás contar. Não será preciso, afinal como mulher digo, nem numa palavra acredito, e como homem trago em mim um macho aflito! Sei, mais fácil desventrar-te que revelar-te. Tu homem, de uma mulher saíste do escuro feminil, dum ventre sem limite. Mas te descortino, sem grande desatino e ri-te varão, lá sabes que razão, o porquê de teu tamanho, concederam-te envergadura, tal gótica arquitectura, doaram-te força e mestria, algum poder empacotado e sabedoria. E tu, sorri princesa, a ti sobrou beleza, suave brejeirice, uma forma sábia de sacanice. Eu? Já disse, nasci mulher sem me aperceber que homem seria ou terei nascido homem... que importa, escuta, bebo presunção, engulo em julgada permissão, até dou por desbarato este parecer ingrato, essa única costela de Adão que agora parece bem por ocasião. Serei fêmea em confusão? Nada disso, só quero uma razão, que há, diz másculo altivo, existe na mulher que sou e no homem que me mora, sim, sem mais demora, todo tu és macho flora, fêmea rendida, dignos de o ser, agora toma como tino, sorve esse comprimido, que tem cura. Acordamos agarrados, cegos sem sexo concedido, engole outro curativo e vejamos de repente tudo o que é diferente.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Beijo caro(a)


Cubro e cobro a beijos o que tiver de ser, neste meu eloquente desejo, sei que nem vejo, aposto num desconecto anseio, até o chão do mundo beijo. Beijo as expectativas irreais , nada é em vão, nem tu penses sequer num suposto não. Tem de ser assim, enfeito o beijo, encanto e iludo, suspenderam minha viagem e não quero merecer outro lugar se não este que é de tão bom estar, onde passo a cada hora tinta a 5 letras e sai mais um beijo e outro a seguir, que mal tem é um beijo, quem me impede então, se não é doce é acre é viver de ocasião. É um beijo vermelho, que meigo, aparentado a frio, suado a amargo, que queima, cola no lábio como o cubo de gelo cortado do glaciar, lânguido feitiço, indeterminado cobiço, beijo perdido num fundo de um quadro a veneno pintado, penado num milagre de amor fantasiado, uma promessa de não pernoitar só. E então, faz de conta, que mal há, é um ensaio num espelho beijado, um fazer amor como a colher engenhosa dona do açucareiro, é amarrar como erva enrolada puxada demora num charro travado. Deixa-te livre levada, embarca afinal no beijo, beijinho beijado e deixa-me ver-te sorrir, como gosto de te ver sorrir...
Quanto custa esse beijo?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

dEl(e)

Acordou gelado, pingava do nariz e a baba desenhara-lhe um rio congelado pelo queixo.
Estou pendurado! Constatou. Pendurado num estendal!? ...Céus como aconteceu isto? Questionou-se desorientado e pensou alto:
- Mas que mundo este? Será o meu?
O céu era pintado a púrpura e o frio era extremo e húmido. De repente  bateu-lhe o medo e achou que estava no mundo dos vivos, - Ohhhhh o medo é dos vivos! Tenho medo! Estou cheio de medo!!! Gritava-lhe o interior, as entranhas tremiam mais que de início. Ao frio juntou-se-lhe o temor. À sombra, as ideias congelavam-lhe, ainda assim visualizou na sentença uma coroa, uma imagem de honra e de volúpia. Era a de uma delas, certo disso, de alguma das graciosas mulheres que lhe passara na vida.
- Mas onde estou? 
Optou por um pouco de silêncio. Chegou lá, percebeu, perdeu uma coroa que o iluminara, que lhe dava um outra luz, que o aquecia e ele nem acreditou naquela magia.
Visava ainda assim a mulher, a que sabia que coroa não tinha. Viveu aquela vaga imagem e a custo esboçou um singelo sorriso. E começou a envelhecer ou a sentir-se velho, não o sendo, não o era, nem por sombras o seria, mas não tinha mais forças nem reacção, babava, uma aguadilha frígida.
A chama já não morava ali, nem lhe caia em cima. Estava envolto num físico escuro, para além de estar pendurado... aclararam só as lembranças dEla, da que já não cavalgava as fantasias, nem o animava ou enchia de poeiras os dias mexidos. Parado, pendurado no universo...  
- Bolas!!! Estou no estendal do céu.
...fodasse estou morto!!!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Em todos os lugares o amor acaba


Comecei ontem a odiar o amor pai. Supostamente o amor seria uma coisa boa, não era assim? Porque razão não gosto mais dele? Não o quero! Ontem já não o queria e hoje já o afugento! Ele é cheio de artimanhas que me assustam e me fazem parecer que devo alguma coisa a alguém, uma dívida afigurada a dádiva! E com todo o meu bom senso e minha inteligência assumo esta posição de odiar o amor. Já o odiava ontem e por tamanho descuido foi ontem que o perdi. Perdi o amor que levava na mão, era um pacote embrulhado a papel craft envolto numa corda áspera e fina, que acabava num laço mal feito! Acho que ficou num banco de um jardim onde nunca fui, faz parte agora de uma paisagem que eu nunca vi. Quem pai? Então, o amor! É disso que te estou a falar, do amor empacotado que perdi!
“O amor...”, dizias-me tu, que havia em gentes que davam pouco do muito que possuíam, e havia os que de pouco tinham e davam inteiramente. Confiam? Ou são pessoas confiantes? Haaaa generosos da vida, querias tu me fazer acreditar! Já te disse, odeio o amor e sou bem bondosa quando o afirmo! Aquele pacote era um cofre de ferro pesado que agradeço o ter deixado por lá, naquele banco verde de jardim rodeado de flores que lhes desconheço nome. Para quê saber o nome das flores? Elas são bonitas de se ver, precisaram que lhes sabemos o nome? Disparate, mais um romantismo compulsivo!
Não! Não estou vazia mas sim a esvaziar, nunca a amargar, nem penses nisso pai. Só quero odiar o amor e pronto! Não o quero neste cheiro ou molde ou o que lhe quiseres apelidar! Quero-o com odor a uma fragrância sem nome, sem conexão, sem baptismo, sem significado tatuado. Dessa forma até me pode agradar, mas ontem perdi-o sem remorso. Odeio não ter remorsos! Odeio quem não tem lugar, como as encruzilhadas do amor sem intenção, onde se perde o sentido que se transforma na doença que é o sonhar.
Só quero odiar o amor, sem apontamentos trágicos. Sem abraços de eternidade que sabemos não existir. Nada é eterno, o amor também não, o amor é uma intenção, uma predisposição. E eu não estou bem disposta com ele.
Hahahaha, pai nem imaginas, estou a ver o pacote do amor lá onde o esqueci, no banco, no tal, não sei quê jardim. E são quase seis da tarde está a noite a querer chegar. Está um senhor de tenra idade a telefonar do seu telemóvel para a esquadra local. Imagina pai, suspeita de uma bomba relógio. E se é pai, se é... é o pacote do amor, embrulhado num papel tão simples e enlaçado a guita tão pouco nobre...


"Em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba." Paulo Mendes Campos

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Margem


Se for eu uma passagem, quero que saibas umas coisas, tantas de quem já sabe;
se o meu brilho ofusca na maior noite de luar,
se o meu jeito reguila enche um dia de neblina,
ou mesmo um só meu olhar,
minha pose ou forma de estar,
embebeda quem nem se ousa a encarar,
sem toque, nem afronte, sem confronto minimal,
então eu sou,
sou a tua bola de cristal,
onde vês um mar fresco no verão,
um abraço de outono,
suave vento a acalmar,
um inverno frio amornado,
ou a primavera a mão dada, suja e salpicada,
sou quem te refresca, te aquece, te pinta na paisagem,
sou o teu lume, a água, o vento sem lamento, a terra com raiz,
sou a tua mulher inteira,
sem esquema ou gadelha,
imparável, acreditada,
impagável, amada,
impalpável, sonhada.
Sou tudo o que renegas,
e tudo o que te leva a ti,
sou o teu barco que por si navega,
sou tudo menos uma espera,
sou o que existe a quem se entrega.
Assim percebes agora,
não sou a tua margem,
esse bilhete é noutra paragem,
ouve,
se for eu uma passagem,
esquece o preço desta viagem
e percebe a mensagem.
Mas se de súbito te parecer me quereres,
és vasto e louco,
pois acredito já pouco,
duvidaste, hesitaste, mesmo paraste,
e no vento abanaste a minha barca abalada,
queres-me à margem,
e o meu coração do lodo desse rio partiu,
nesse dia, nessa hora à procura de outra aurora.
Se me eras destinado,
não fiques baralhado,
vais aqui,
navegado a fogo içado,
em mim nada se assola ou se larga,
o meu amor é amado,
marinado, nestas águas velejado,
não são turvas, nem translúcidas,
é um mar a ser estimado.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Anónima tesão


Anónimo, dás-me tesão!
Hoje acordei molhada por ti na esperança de me deitar já húmida contigo. No fundo tu fazes sentido. Dás-me dedicação solvida em tesão. Roubas-me a atenção, obrigas-me a desejar-te. Como te odeio, renego este prazer vazio, este sentido vadio. Fazes-me esperar por ti como quem olha aguardando um alguém. E seres o anónimo suspeito que és. Quanto te odeio! Quilos de desilusão por não saber quantos são. Serás tu um só a servir um só coração? Ou serás para tantas outras então?
Ouve anónimo, dás-me tesão!
Vago anseio, carregado de toda a razão, afinal também és solução, és afago e perdão. Quem sabe alguma paixão. És desprezo por tua existência, és sorrisos cínicos com certeza,  és falta de olhares cerrados ou abraços apertados. Quanto te abomino! Quanto és de fascínio. Assolas o estar, violas o ser. És mesmo obscuro falhado, mistério falado, post partilhado.
Escuta bem anónimo, dás-me tesão!
Esta espera é sem fim, não sei quanto tempo foi, quanto será por inventar, não sei se de noites deixas ou de dias enches, és abandono que nunca vai, és volume que nunca sai! Tens formato em mancha escrita, desconhecido que acorda quem nunca adormece, durante uma guerra sem luta. Deixa rasas feridas, onde nada há para desinfectar. Quanto te detesto! E nem por isso te desmistifico. Serás o que eu quero ou o que eu preciso?
Lê-me anónimo, dás-me tesão!  


domingo, 7 de outubro de 2012

60


(Este Post foi criado para um blogue que é de todos os que se atreverem a dar-lhe vida pela continuidade. Foi escrito ao sabor criativo de um número como título, o 60. Será publicado no blogue "E aí vai ele"- ofereco-te-este-blog )

Pensava como seria aos 60, estava agora com 40, via-se a meio de um livro escrito. Não cogitava se estaria bem ou mal lavrado, sua bíblia redigida era uma catástrofe de alegrias e mais umas avalanches  de tristezas oprimidas. Como seria aos 60...
Apagou a luz do pequeno candeeiro de quarto, e a escuridão era clara, o coração bateu em compasso nervoso e a cabeça iniciou a fervura de uma panela de pressão. Enrolou-se aos lençóis que depressa iriam aquecer e falou baixinho, “como vou eu amar?, como vou eu amar??? deita-te comigo medo, mas não me contes mais mentiras, fica somente aqui perto, encaixa-te no meu corpo, bem sabes que não sei viver sem ti, não sei viver sem ti... mas não me ampares porque não será desta a minha queda, não vês? Estamos nesta cama, e tu estás agora envolto neste corpo por amar.”
E o medo respondeu-lhe,  “não consigo fazer-te amar, se a mim que sou o teu medo me fizeres acreditar. Aqui, no escuro, este reino e domínio é meu, se bem queres, aqui consigo fazer-te desejar, aqui no sombrio tenho o poder de a ninguém desprezar. Fecha os meus olhos e eu verei esse teu querer, este que te sinto agora neste abraço que sufoca. Conto-te que o amanhecer virá, dar-te-ei o que julgas certo, na que será claridade pardacenta. E na boa luminosidade nunca desistas desse lutar, desse saber se se sabe amar. Depois desistirei de ti e de te aconchegar, como agora, com a nova luz  quase a chegar. Pois tão cedo eu não vou voltar, nestas últimas horas de luar. Shiuuu o sol vai raiar e eu vou fazer-te sossegar.”

sábado, 6 de outubro de 2012

mão d`ele


As mãos do médico acariciavam-lhe o rosto, aliviando a pressão exercida. A boca doía-lhe. Havia mais de uma hora que estava deitada na cadeira do dentista.
Não sentia qualquer poro do rosto atordoado, julgou eternizar daquele jeito,  de maxilares arregalados, divagou na idiotice. Mas tentou concentrar-se no tratamento, e nele, no médico que lhe cozinhava a boca. Fantasiou no anseio do que se propunha o arranjador de bocas, talvez não só à recauchutagem de dentes, como quem sabe a de um coração.
Tamanha era a ternura e carícia sobre o seu rosto, que lhe alteou os desejos despertos sobre a dormência e viajou à velocidade da broca.
O médico alvitraria a extracção, envolvia-se a tão árdua tarefa, de forma delicada e perfeita e continuava massajando-lhe a face.
As horas decorreram, as doses de anestesia acresciam e desciam-lhe pelo corpo até ao umbigo. Uma formosa dor suave chegou, um palpitar formigante até às coxas, um aperto, um cobiço, uma vontade e cerrou o olhar.
A mão entusiasta não cedera na massajem sobre a pele adormentada, e alentada arriscou-se vagarosa na descida, abandonou o rosto e encontrou um pescoço fervente que apurava um odor ardente. Ele soltou um plácido gemido. Que lívido estado o dele, não se segurou na vontade. Os lábios latejantes acompanharam a mão, e beijou-a, beijou atrás da orelha, arquejou até ao peito recortado pelo decote  avassalador. Ofegou-lhe calor, soprou um vendaval cálido pelo rio dos seus seios e brotou-lhe água salivante, humedeceu-lhe as montanhas e plantou-lhe a tesão. Percorreu-lhe o corpo com dedos vagos, sabendo já o destino certo e desceu meloso, aquela mão vertiginosa que se encobria por debaixo do vestido sedoso e avizinhava-se nas cuecas rendadas.
Encontrou uma vagina palpitante que transbordava do que lhe escorria entre as mamas, deslizava um regueiro suado com aroma a amantes rubros. Dedilhou-a como a uma flauta encantada e penetrou-a fundo com o mesmo encanto que lhe fizera no rosto.  Um trauteio melódico e apaziguador de qualquer dor. Dos olhos dela, chovia agora lágrimas lívidas de prazer que ele as bebera como se dela tudo fosse dele. E sussurrou-lhe inteirado ao ouvido, “és minha”... 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Chat XXI


- Olha Dália, com este calor minetou que quebrou! Sim, sim eram quatro da tarde estava o Gonçalo a fazer-me um minete, soube-me pela vida e olha estou sem remorsos! ZERO, zero de remorsos! Não me vou dar ao luxo de sofrer por um Amonas!

- podes crer, Amona, é nome perfeito para o gajo Carla!

- ...é super frio e distante e o Gonçalo faz-me uns minetes... e deseja-me, elogia-me...

- pois, é a melhor forma de deixar uma gaja caidinha!

- ...diz o que eu gosto de ouvir e preciso! Agora o Amona nem faço mais um caralho por ele, quando ele quiser, é se eu estiver!!!

- olha levou como traição com um minete na tola!!! (Ahahahah)

- podes crer, será que um minete conta como traição??? ou é só meio corno? ...com a intensidade que me vim! só pode contar! quero que conte Dália!!!

- és o mais puro deserto de emoção amiga,  és muita século XXI!