Sete e cinco. Acordou em
sobressalto ao som da porta do prédio. Saía para o trabalho a Sra. Qualquer
coisa, que, religiosamente abalava para mais de 20 anos à mesma hora. Hoje
saíra com 5 minutos de atraso.
Sete e cinco. Sentiu-o a
seu lado, suado pela manta pesada que os cobria. Sobre a nudez dele, escorriam
seus alegres pêlos junto ao peito. Ele estava feliz, apesar do abafo, o sorriso
tatuado no rosto sereno denunciava o quanto não queria saber de calores. Estava
afinal, onde nunca devia ter saido.
Sete e cinco. Só a
sensação dela, afinal não passava de um prolongamento de um sonho matinal e já bem
ao de leve, ali só estava um único corpo e a lembrança do cheiro a Denim dos
anos noventa, que a fez esboçar um sorriso por cima da dor que sentia.
Levantou-se com a mão
sobre o pescoço, doía-lhe mais do que gostaria. Abriu a bolsa das drogas e
antes de qualquer outro alivio, encheu um copo com água e engoliu em esforço a
pílula alaranjada. Hoje só o poderia mastigar, engolir seria imprudente naquele estado doente.
No entanto atreveu-se a pensa-lo a dormir. Como estaria a dormir? Suado? não pela manta de lãs
coloridas, mas quem sabe por um sonho fermentado a desejo? Mastigou esse
pensar, travou um gole no café forte da manhã e pelo cheiro aromático pensou
como o tragar.
Olhando pela janela que dava para as traseiras, falou alto,
inteira e integra como sempre. “- Trago-te como que dentro de uma caixa de
costura, em que as linhas se enrolam unidas num novelo de finas linhas
coloridas, emaranhadas confusas e chatas! Na confusão alegre de cores, moram as traiçoeiras agulhas perdidas, prontas a espetar, piores que farpas de uma
madeira antiga, robusta e maciça no meu sentimento fragilizado!”
Arrancou da dormência de
o ter junto a si, sem esse existir de facto, nem sabendo ao certo se estaria
ali mais do que um sentimento do pensar vir a ter um outro igual, num outro qualquer dia.
Sete e trinta e cinco. Saíu
atrasada...