Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

sábado, 29 de maio de 2010

Com jeitinho

O solteiro o divorciado e o viúvo
- Então a saber, Senhor Américo Jesus, Solteiro, 57 anos; Marco Anastácio, Divorciado, 34 anos e Tomás Oliveira, Viúvo 49. Certo?
- Certo! Confirmou Américo como porta-voz.
O Oliveira continuava apático, já Anastácio perdido de gozo, refastelava-se na vulgar cadeira de gabinete de esquadra como se tratando da verdadeira poltrona real.
- Como os senhores sabem a Senhora Alzira Antunes apresentou queixa, diz que já não é a primeira vez... bom infracção por parqueamento de autocaravana em local impróprio, e atentado à moral...
Já fora da esquadra, questiona Anastácio em jeito rebelde. - Mas afinal quem é a Senhora Alzira?
- É a tal Velha do R/c, defronte ao estacionamento! Pelos vistos não dorme durante a noite! Resmunga o Américo lixado.
- Acho é que ela acordou com os guinchos da gaja que o Oliveira papava!
Oliveira continuava , mudo e imperturbável...
- Oh Oliveira, meu, tu estás bem? Silêncio... - OLIVEIRA! Grita Anastácio que se encontrava já sentado a seu lado dentro da autocaravana.
- Anhhhh...???!!!
- Anh?! Então a malta leva uma multa do camandro e tu dizes Anhhhh!!! Ela bem dizia era oooohhhhhhhhhaiiiiiiiiiohhhhh.. bicha histérica! não sabias amordaçar a gaja? Agora à conta da puta, tungas acabou a festa!
- A manifestação de prazer exacerbado fora meu. Diz Oliveira em jeito de quem soletra o primeiro texto de primeiro ciclo.
Silêncio...

sábado, 22 de maio de 2010

Papagaio

Foto Armanda Com
A reformada a desempregada e a desocupada
Na esplanada tomavam um café com gelo. Pés descalços em cima do muro, elas avistavam a cidade que fumava no calor.
A desocupada arejava-se, pernão aberto e os dedos dos pés escancarados parecendo uma pata de unhas pintadas a vermelho. A pequena brisa atravessava-lhe entre os dedos ventilando em remoinho na renda da cueca. - Ai minhas queridas, a velha do terceiro andar da rua Castilho patinou, estava a ver que nunca mais, credo a velha parecia-me ir durar tanto quanto o papagaio herdado ... o cabrão do papagaio já é do tempo da sua tia avó, deve de ter para cima de 100 anos e ainda dá cartas a chamar nomes ao sapateiro do r/c do prédio em frente. Bem, o bom disto é que posso alugar a casa agora por justa renda, os 25 euros eram ridículos! É certo que a casa vai necessitar de obras, todos os andares já estão impecáveis, são casas maravilhosas, pé direito alto e janelões que maravilham qualquer um... mas não sei o que fazer com o raio do papagaio morador numa gaiola centenária ainda lá pregada ao alçado da janela da velha...
- Mas oh desocupada, queixas-te tu de um papagaio que come sementes de girassol e ainda manda umas bocas ordinárias a quem passa...
- Não, não! Ele só arrota ordinarice ao António Sapateiro! Mas que faço com ele? A velha era sozinha, e eu como senhoria prometi ficar com ele à morte dela, que cruz, eu uma maravilhosa desocupada que faz jus ao nome, agora a ocupar algum do meu precioso tempo desocupado com um papagaio... - Ordinário!!! Repetiram as duas amigas em coro.
- Olha reformada o papagaio era boa companhia para ti!
- Para mim?! Porquê para mim?
- Porque precisas de ocupação! Diz a desempregada com o seu mau feitio.
- Olha parece-me bem que a ti é que te fará falta, pode servir-te como dupla na cena do mal dizer, seriam imparáveis! Retorquiu a reformada já mal disposta.
- Tu vês muitos filmes reformada por isso é que nunca saíste gloriosa daquele teatro onde ofertaste os teus anos de beleza e trouxeste rugas empacotadas a naftalina!
- Bom, bom vamos lá ver senhoritas, comportem-se a questão só passa por um velho papagaio... - Cala-te desocupada! Gritam as outras duas.
- Cala-te sim, tu lá sabes o que a vida custa, nunca vergaste a mola para nada, até as rendas dos teus glamorous apartments recebes por transferência bancária! Dizia a desempregada envenenando mais o ar abrasador daquela tarde de esplanada, pouco faltava para a lavagem da roupa interior...
- Mas vocês querem ver isto... cá tenho culpa do sucesso que levo como vida?!
- Sucesso???!!!! , mas que sucesso? Espumou a reformada, o sucesso que tiveste foi o que me caíra das mãos, sim ou julgas que se meu sonho transformado em desilusões, o tempo grandemente ocupado, levado no teatro, na loucura dos itinerantes, terias casado algum dia com o Jorge, com o meu Jorge!?
- Olha reformada, o Jorge nunca te amou, amava sim o espectáculo e tu fazias parte da representação do falhanço, tu sim, foste a primeira dama, mas eu sua mulher!
- Calem-se, calem-se!!! A desempregada já desesperada, queria parar por ali, embora de unhas sempre afiadas, perseguiu da pior das formas. - Calem-se mulheres rancorosas, falam de barriga cheia, no fundo a pior sou eu...
- És??!! Questionaram em dupla voz irónica.
- Sim sou, fui, ou sei lá, nunca passei de uma balconista na venda de lingerie, onde o Jorge comprava num dia um 36 copa A, num outro um 38 copa B, até que deixou de comprar e passou a usufruir do seu bom gosto por roupa interior neste meu corpo de sereia...
- Corpo de sereia? Queres dizer de monstro de loch ness!!! Intoxicava a desocupada. E entre dentes viperinos saia-se a reformada; - Balconista..., brochista isso sim!
- Calem-se suas mal fodidas! Putas e velhas ressabiadas! Isto tudo por se tratar de um papagaio centenário? Qual quê, uma desocupada que areja as rendas das cuecas numa qualquer esplanada, a quem já ninguém quer ver nem a cor quanto mais o cheiro! Aí minha querida, nem a operação plástica te safa! E uma reformada frustrada que vive no drama de um palco de vida falhado, nem para ficar com a fortuna do Jorge teve pinta, eras bela sim minha querida, eras, e isso de nada te valeu. Eu minhas lindas, nunca passei da brochista balconista??? Certo! Mas os meus menos 20 anos é que vos fode! E o Jorge bem soube a diferença, soube o Jorge e sabe-o agora Bernardo, a quem vós deram em cima na festa do fim-de-semana passado. É, é o meu actual, Bernardo! Tenham um resto de boa tarde minhas doces companheiras, mas o dever chama-me, é que nem estou desocupada, nem posta de lado, arranjei emprego!
- E quanto levas à hora? Pergunta secamente a desocupada.
- Chega para vos pagar o café de amanhã... à mesma hora?
- Sim, à mesma hora, se o tempo não nos lixar o tempo! Aligeira a reformada.
- O tempo o dirá! Diz a desempregada com um sorriso sadio. Até amanhã. Cumprimentos ao papagaio!
- Até amanhã.
Às mulheres de toda a condição;


sábado, 15 de maio de 2010

Andará o mundo carente?


“Procuro homem primordialmente inteligente, preferencialmente alto, magro, claramente bonito, e com um estético sentido de humor, para boas conversas e quem sabe algo mais.” Antónia.

“Procuro senhora bem apresentada, boa falante, amiga, afável, carinhosa e moderna, momentos inesperados puderam fundir-se num só corpo.” Carlos

Procuro?, procuro???? Digam-me por favor, onde? Como? Quando? Digam-me onde vou encontrar o “como ver o que eu preciso”? Digam-me... Digam-me tudo!
Sei sim o que é preciso, mas o que eu preciso não sei, baralha-me as vontades. Preciso de humanos justos, honestos, sinceros e que falem não só gozando de um silêncio obscuro. Preciso de humanos inteligentes, humanos bonitos de se ver nos momentos inesperados da vida, preciso da partilha primordial da amizade que se funda em largas e deliciosas conversas que animem o ambiente do meu cérebro com humor estonteante, preciso de risos, preciso que me encham de carinhos e mimos, verdadeiros apetites afáveis que me elevem aos céus como uma pluma suave, macia e celestial. Quero tudo isto do novo do moderno sentido actual de se viver entre humanos.
Afinal preciso de tudo o que os demais precisam!
Foto de Rui Cadete (Pormenor)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

17ª Consulta


Serás a próxima ou avio-te já a seguir!

My dearest and fuckin teasing Cabra:

Ansiando pela sua consulta, fui imaginando a forma menos porno de descrever o meu pseudo-problema! Sim, pseudo-problema porque o que para uns pode ser visto com um problema, para outros pode ser um acto benemérito de compaixão pelo próximo (e seguramente é esta segunda a leitura que eu faço à questão). No entanto, e para efeitos biblícos, vamos tratar “disto” como um problema. Dou por mim várias vezes a masturbar-me nas casas de banho de todo o lado, sejam centros comerciais, bares, áreas de serviço ou emprego. Um completo e bem descrito tarado sexual que se toca todo quando vê uma boa Cabra e não a consegue foder. Cabra, será este meu caso grave? E acha normal que aproveite toda e qualquer situação para meter conversa, e me comporte como o verdadeiro tarado teasing que não tem regras só com o único objectivo de horizontalizar (ou não) uma qualquer cabra? Que conselhos me dá para controlar os meus impulsos de predador sexual e deixar de papar miúdas de vinte e poucos anos dentro de carros, e de me deixar de estourar o meu guito em quartos de motéis com as trintonas mais exigentes?

Aguardo impaciente e masturbante pela sua resposta, que pode ser escrita, ou em forma de exercício prático, ao qual, desde já, deixo a minha inteira disponibilidade.

ASS: Anónimo (mas pouco)

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Meu Caro Pouco Anónimo, não vou “tratar disso” como um problema, aqui não se trata de males físicos ou psiquiátricos, não existe sequer medicação! Aqui há reflexão em espaço aberto para quem por sorte ou azar passe as vistas por esta montanha. Haverá com certeza quem avalie “esse problema” como um problema, outros como uma prestação de serviço público, afinal quem em poucos minutos se horizontaliza ou verticaliza consigo não importando o local ou posição é porque participa da mesma vontade e andará tão necessitada quanto você, assim questiono, seram igualmente taradas? Será que anda meio mundo tarado?

Poderemos sim pensar num insaciável impulso sexual, num difícil controlo do desejo na demonstração personalista de virilidade.

Conselhos não tenho, acho muito saudável que se masturbe e pratique sexo o mais possível, porque tarado sexual é o individuo que viola uma vontade num desejo não partilhado, e não me parece este o caso.

Continuação de boas fodas com direito a todas as colocações.

domingo, 2 de maio de 2010

Detalhes do meu tal amante

Foto Autopsy - DDiArte
O outro fazia...
O meu tal amante, um dia foi só mais um amante, e num outro muito mais à frente terá sido só um tal amante. Hoje brando, por si só o tal, e quando se trata do tal amante, o meu foi perfeito, outro ideal, a seguir sem prazo e depois certo amante, e como tudo, hoje foi, hoje é só o tal amante, o tal...
O sexo na mais pura da expressão. O sentido do sexo ou o sentimento no sexo? Um sentido que desperta todos os sentimentos vividos! Nada é tão vago nem tão explicito, nada é só memoria nem só indicação do que voltará a ser, nada é assim tão grato quando se fala do meu tal amante.
“O sexo é uma sabedoria que se desgraça em incoerências de teoria sem nexo.”
“O princípio de qualquer comunicação entre dois amantes é um léxico comum.”
Se existe mesmo esse amante?
Nada é tão sublime como um momento, e num determinado momento, sim existe o amante, aquele tal que ama, que transborda, que toca o divino no físico e no mental, sim, existe sim! E nenhuma palavra transcreverá com justiça o que é um amante ideal, mas sim o idealizado, só sentimentos, só sentimentos... e eu valho o melhor dos amantes. Eu sim! Sou a tua melhor amante!
“ Uma Mulher bem fodida mostrar toda a sua inspiração!”

Faço-te eu melhor!