Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O homem das calças amarelas .2


Sem se aperceber o corpo atendeu à fraqueza e sentou-se sem comando no banco de musculação. Abriu as mãos e os halteres escorregaram suavemente rolando no pavimento anti-deslizante. Baixou a cabeça ao soalho, naquele chão as pingas de suor desenharam linhas como quem decalca ao acaso, passando a manchas com formas voluptuosas de mulher, sentiu o corpo arrepiar, talvez pela roupa encharcada colada a si ou pela delicadeza daquele momento. Seria a ele que ela se dirigia, continuou cogitando, divagou no anseio, fechou os olhos e fantasiou. Sonhou-se debaixo de um banho, onde a chuva aquecida e as mãos dela pelo seu corpo quente minavam-no de carinho. O suor transformou-se em lágrimas ferventes, inebriantes de prazer e sorriu, um misto de sensações inesgotáveis, medo e delírio numa malga de incerteza.

Abriu os olhos, observou os charcos de suor no chão a tremerem como ele, os tacões das botas dela, ainda que enfiadas nuns pequenos sacos azuis, não amortizavam os passos a aproximarem-se. Petrificou, completamente em pânico, mas ela, dela só o rasto do seu perfume suave, passou ao lado, ligeira, um toque entre calças, as dela de ganga justa às suas de algodão amarelas foi o que alcanço. Ela passou e segredou junto ao ouvido de um outro sócio, algo rápido e voltou a sair graciosa, mexendo nos seus longos cabelos com a esferográfica que trazia na mão.

Sentiu vergonha, a sua grandeza física traduzida a incorporal, nula, translúcida até, mas ao mesmo tempo oprimiu um alivio ou uma desculpa. Que lhe diria, se ela o interpusesse, talvez nem conseguisse manufacturar uma simples palavra, um sim ou um não, mais certo sair um descoordenado hãm hãm...

Pegou-se ao treino, com mais atitude e afinco sobre uma dor de Calimero. Os poucos que restavam na sala de treino paravam em espanto por tamanha força e resistência animal. O homem das calças amarelas, ignorava o ambiente, as horas levadas naquele treino eram recorde para qualquer outro. Os seus músculos aclamaram perdão, ele absolveu-os caindo como um árvore de grande porte no chão.

(continua)


10 comentários:

  1. Fascina me a imaginação do homem de calças amarelas, aonde ela a leva ( a mulher que se depara sobre si).
    Estou certo que, seja ele qual for ( o final) lhe irá marcar a mente tal e qual os alteres lhe marcam o corpo. . . mas a ver vamos.

    O gajo que anda sempre descalço

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    1. Oh descalço, fica para sentires ou veres ou melhor... leres-me:)

      Beijo

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  2. Que envolvente este desejo relatado aqui Moça. Que blog delicioso.
    Bjlhões ;)

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    1. Sorry i cant Fly, obrigada por esse teu voo por esta minha verdejante montanha. Um beijo em ti.

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  3. Minha Cabra Amiga
    Bem até transpiro com tanto treino, acho que nem o dito bife na pedra me tiraria tal esforço...

    Beijos com Molho Inglês
    Aguardo desfecho
    A.M.

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    1. Aurélio Marcolino, uma massada de peixe? Não?

      Obrigada pela tua doçura presença aqui.

      Beijos de Mostarda, e aguarda-me...

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  4. Ela é um mar de sedução que a seus olhos não passam despercebido!
    Mas há no fundo algo que ele não abandonar...
    Sinto que há algo para além de um simples gostar...

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    1. Será desejo? anseio? crença? Magia? Teimosia? ...

      ;)

      Beijo VULCAS

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