Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Com.fé.são


Maria Hemércia Assunção, cozinheira, estava perto de completar 50 anos e em nada se sentia de quase meio século.
Mulher vivida que nunca deixara nada por fazer. A família era pouca, ou quase nenhuma, os amigos de longe não eram demais.
Honrava pagamentos, era educada, trabalhava sempre inspirada.
Alegre, sorridente, boa gente, grande falante e confidente a todas as bocas que de seus ouvidos lhe faziam enchidos. Cansada, sim, ali a sua idade pesava.
E enquanto envolvia a colher de pau em mais um panelão de arroz de berbigão, já tinha ela toda a solução, chá e poção, para todas as emaranhas do coração.
Hemérciaaaaa, chamava o seu colega João, enquanto ia pôr lixo no saguão.
Hemérciaaaaa que faço eu a meu irmão? É um engatatão, trai a mulher e a mim que sou seu irmão!
Como o trai a si, sr. João?
Então o cabrão, até pela minha Francisca tem tesão!
E Hemércia confinava resolução, apimentava a situação, argumentava e solucionava e João satisfeito beijava-lhe a mão.
Hemérciaaaa, alarmava o seu patrão.
Diga senhor?
Hemérciaaaa, que faço eu, que nem dinheiro há para pagar sequer o vosso pão!
Ai patrão, isso é que não! E Hemércia com sua educação, roubava um pouco mais de conduto a cada refeição e o seu patrão quase ajoelhava e lânguido beijava-lhe a mão.
No final de cada noite, dando fim a pratos e repastos, sentado à porta da tasca, ouvia o mendigo, já dado como seu irmão... Hemércia dá só mais um tostão. E Hemércia esticava o braço, deitava-lhe uma moeda na caixa de latão, ouvia o tilintar e o repenicar do beijo na mão.
Estava cansada, por vezes triste até, só ela é que não tinha situação. Sofria de todos os males da solidão, e à noite, deitada no seu estreito colchão, era mais uma, que no final sentia afeição, num beijar com fé, o teto da sua mão.

20 comentários:

  1. Começas todas as tuas semanas cheias de Fé?
    Bom inicio de semana e passa pelo meu cantinho para mais uma semana de charme. Participa tambem na sondagem do lado direito. è rapido
    Beijinhos charmosos

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  2. Olha querida tens uma prenda em forma de selo no meu blog para ti. Se quiseres cola-o no teu blog ou guarda-o para ti. Está aqui
    http://mistercharmoso.blogspot.pt/2012/04/50000-visitas.html
    Beijo charmoso

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  3. Um enredo bem escrito, ao teu nível. A solidão por um lado, a vida de traição por outro, algo “eterno”, mas que me parece cada vez mais actual.
    Grande beijo

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    1. Obrigada meu Sam, vindo de ti é sempre um grande elogio.
      Beijo grande

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  4. Por vezez, momentos a solo erguem-nos acima do solo. Belíssimo!

    Beijos

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  5. esta historia de tachos e panelas deu-me fome...já volto :P*

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  6. No mínimo genial!!!

    beijo

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  7. As melhores historias sao sempre aquelas que estão mesmo ali ao lado mas que apenas alguns as conseguem descobrir.

    my-skin-and-under.blogspot

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  8. Braço esticado com teNsão em dedos enlaçados de tetos assimétricos "Levante-se da cama D. Hemércia que já está na hora!" :p

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    1. Ela acorda todos os santos dias bem cedinho :)....
      na hora!
      Beijo

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  9. não é para que o engate tenha sucesso nem para que a foda seja sobrevalorizada, é mesmo e só pq gostei muito...:-P

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    1. Obrigada Outsider, e sê bem vindo a esta montanha.

      Beijo

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