Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dia dos vivos

A céu aberto, irrelevante saber se enublado, chuvoso ou solarengo, eles ali estavam. Muitos eram, encontravam-se em fila, uma fileira ansiosa como quem espera por um qualquer pão seco, rijo e bolorento de tempos difíceis. Tesos, cabeças baixas, rostos empalidecidos e pouco sabedores, não querendo conhecer quem estava para trás de si, e os da frente também pouco tinham de importância. Sem vida alguma, sem brilho de alma, marchavam lentos, sempre que a fiada avançava permitiam a ida de um pé atrás do outro. Não atingiam porque ali estavam, nem era de valor perguntar. Eles eram os vivos.
Os outros estavam deitados, lá no fundo, nas arrecadações do confim do mundo. Riam de contentes, bem nutridos por larvas biológicas de cultura fértil e estaladiços vermes, muito crocantes comparáveis a pipoca. Riam a ver o filme dos vivos.
- Coitados dos vivos! Dizia o Alexandre mangando dos vivos.
- Sim, sim - ria um outro - e nós é que somos os mortos!
- Oh cadáver Alexandre, respeito pelos vivos se faça o favor!
- Mas oh Sou Doutoree Cadáverrr pá, eu respeito os gajos! Mas esta coisa da recessão económica está a dar cabo deles pá! Estão vivos a ansiar estarem mortos ou como a outra dizia, estar vivo é o contrario de se estar morto, esta grande verdade já não faz sentido oh sou Dona Lili! Ahahahah
- Mas afinal que tem você a ver com a desgraça dos vivos, a si não o deixa mais morto do que está!?
- Olhe Sou Doutoree, por acaso até deixa pá! É que qualquer dia, um gajo aqui, cai mesmo no esquecimento! Então se a malta lá de cima não tem dinheiro nem pá comida pá, como vão me mudar as flores do meu telhado???

8 comentários:

  1. Sim de facto.
    Estamos mais mortos que vivos.
    Eu vejo-me nisso.

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  2. Incrível a tua imaginação!

    (já para não mencionar no teu poder de escrita).

    Mas olha, vê lá se agora vieste para ficar, ok? Chateia-me à brava que me deixes meses à míngua!

    Beijo do além :)

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  3. Gostei muito.
    Não percebo as razões da tua insegurança :-)

    E gostei muito do blogue tb.

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  4. Os mortos que não se ponham a pau que estão aqui estão a pagar aluguer pelo espaço que ocupam, se não pagarem ainda acabam a produzir energia! Beijocas!

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  5. Mr. White B.:
    Vamos lá meter os vivos mortos e e os mortos vivos!
    Beijo


    Pedro F.:
    Epá Pedro deixas-me sem palavras pá ☺ Beijo e obrigada!


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    Vim sim para ficar, com quem é que ainda não sei ☺!
    Beijo doce


    Sad eyes:
    E eu tb gostei muito ☺!
    Faz parte as inseguranças de bom português!
    Beijo e um muito obrigada eyes.


    Rafeiro Perfumado:
    “por a pau”?! nesse caso sorte a dos mortos!
    Gosto de ti por seres um Sr. Rafeiro Cheiroso!
    Beijooo

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  6. É curioso, ainda há uns dias questionava-me acerca da necessidade de existir um dia no calendário a relembrar os mortos...

    Há quem diga que a nobreza de um povo se mede pela forma como tratam os seus mortos. E para não me alongar mto no comentário, diria apenas que, não sendo um saudosista, não vejo como é que vamos recordar os mortos, quando em vivos cada vez menos se partilha...

    Foxos

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  7. Foxos, tens toda a razão e se a partilha for falsa, salvem os mortos por favor!

    Beijo

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