Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

9ª Consulta

Às cegas
Encontrar este blogue foi como descobrir uma pérola num fundo de mar, entre terra lamacenta e depois de muitos mergulhos em águas turvas. Foi às cegas e aqui cheguei para jogar à cabra cega. Miss Cabra, aceite o meu desafio: ponha a sua venda e dê muitas voltinhas até se sentir meio tonta: tem à sua volta a mesma pessoa (eu) desdobrada em várias… Vai apalpá-las, cheirá-las, acariciá-las e questioná-las… E no fim terá de descobrir onde estou, verdadeiramente. Tocará no membro de governo, italianamente vestido, em postura séria e voz grave; acariciará o advogado, o cabelo sedoso e bem tratado, sentirá a colónia de irresistível masculinidade e ouvirá um discurso de assertividade que a enredará numa lógica cerrada e encadeada; apalpará as nádegas redondas e arrebitadas de um corpo desnudo, tocará numa cintura vincada, os ombros largos q.b., os dedos longos, as unhas proeminentes e a pele macia; finalmente, sentirá o odor a lírio transpirado e tacteará os contornos voluptuosos de fêmea, não deixando de estranhar uma penugem masculina inesperada, rematada ao centro por um falo expressivo, digno de uma paragem mais demorada. E agora, já sem tonturas e com os sentidos quase todos disponíveis, diga-me, por onde posso seguir a minha vida? É que não encontro sossego nesta constante metamorfose; quero que me diga onde estou, quem sou, que avatares hei-de matar, para que a minha pele seja única e a minha alma sorria… Tão livre de preconceitos que é, Miss Cabra, qual escolheria para si se a sua pele fosse a minha? Ajude-me. Humildemente. LM
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Caríssimo LM,
De venda tirada e já nem tanto baralhada, senti o seu Eu no seu duplo ser.
Você é palco real, você é ordem desordenada, decisão por vezes impensada. Você é o duro gracioso, rebelde e cheiroso; é expressão exacerbada.
Porque você é cabra-macho!
Você é masculinamente inacabado para preceito feminino acentuado;
Você volúpia plumas com o mesmo jeito de um cigarro enrolado;
Você é grave e obtuso no abuso de lhe tocarem no ser de outro sentir.
E agora, já está sem tonturas tal quanto eu?
Disponível sim, para arriscar dizer para seguir com os dois seres, essa mutação inata, não escolha porque nada há para escolhe.
Somos o que somos, felizes quando aceitamos o que criamos em nós, o nosso EU. Goze a duplicidade, porque isso não é uma barragem mas sim um rio aberto há margens de quem sabe viver.

2 comentários:

  1. Uf, que maravilha de consulta... E o nível da resposta! Bravo

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  2. Querida Anita Dona de Casa, obrigada pela presença. E pergunto, terá gosto em tirar pó aqui da montanha? Preciso de agitação de plumas rosa. Um beijo muito amável para si.
    Uma sua,
    Bianca

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