Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

2ª Consulta

Por volta dos meus 13 anos, estava eu sentada entre o grupo de amigas de igual idade à porta do prédio de uma delas, riamos imenso, folheávamos sedentamente a clássica revista Maria e o seu dossier “consultório sexual”, lembro-me de um pequeno texto em que a receosa questionava-se do seguinte; “ Querida Maria, já há uma semana que estou em atraso, lembrei-me que no domingo passado limpei-me à toalha do meu irmão mais velho, estarei grávida? Tenho 15 anos e sou de (…).”
Hoje a este consultório chegou uma carta vital, digna e honrosa. Fico orgulhosa quando gente sã procura resposta, ou conta as suas verdades guardadas em caixinhas de música com bailarinas, ainda que anonimamente, mas com o maior dos respeitos, dita assim;
“ Sou uma jovem de 58 anos, assim me sinto, nunca casei mas vivi vários anos com um homem, infelizmente já não mora em espaço terreno, nunca tive outro relacionamento nem mesmo outro “formato” de relacionamento. Confesso que me sinto só e vivo de memórias nestes últimos tempos, e a memória é coisa espantosa, quando puxamos por ela conseguimos sentir o que foi na infância as mãos da nossa progenitora a passar óleos, cremes e pós de talco no nosso corpo. Choro, tenho chorado, lembro-me da Salomé a minha amiga de carteira que cheirava a flores frescas pela manhã. Amei o meu homem, mas nunca deixei de pensar na Salomé, hoje a recordo de bata celestialmente branca, sinto-lhe o cheiro da boca quando refilava comigo por não ter feitos os trabalhos de casa, e eu amava aquele respingar, ela foi o meu primeiro sentido amor. Hoje não sei nada de nada, não sei como me aproximar, me apaixonar, gosto delas porque olho para elas, coro de todo quando me apercebo que as observo como que por desdenho de uma mulher cobiçando uma mala louis vuitton , mas não, não quero saber da mala, do sapato ou do taier, gosto sim, gosto delas.”
Eu Cabra consultora estou sem palavras, tenho de pensar nisto, caíram-me as lágrimas...
foto António Silva - "Olhares"

5 comentários:

  1. Minha querida ex-amiga,
    Gostei deste post. Acho que andas, aqui, a exorcizar os teus fantasmas. A reencontrar-te. À procura de saber quem és.
    E adoro os comentários com que animas o meu blogue.
    Um beijo

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  2. Meu Querido actual-amigo, gostei do que escreveste no comentário, mas me deixas algumas dúvidas cabrescas, pois fantasmas todos temos e reencontros igualmente todas as manhãs no reflexo do espelho. Eu? Eu sei quem sou no momento, amanhã jamais saberei, e tu quem és? Além de um dócil homem escondido em palavras umas vezes brutais outras angelicais? Obrigada por te ver aqui...,
    este momento amei.

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  3. Como sabes tu que sou dócil? Já provaste (saboreaste) a minha doçura ou o meu doce?
    Beijos doces no teu doce

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  4. Metáfora meu doce Trolha, metáfora...
    Beijinho docinho

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