Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Envolta em amargura saiu para a rua. Admitia-se sem enchimento.
Não transbordava qualquer tipo de sentimento, nem dor, nem admiração,
sofrimento ou imensidão. Consentia fel, num pisava de calçada usada, que até achou
muito para si. Ansiou um carreiro de pó terra ou uma areia fina e húmida em carícia
pelos pés. Entristeceu, era cidade, o que se tinha como simples caminhar, era aquela
calçada coçada.
Aceitava-se como uma bica pouco escura, pouco quente e bastante
amarga, que num trago a engoliria sem protesto ou registo num livro de
reclamação. Que haveria por insurgir? Como um bolo sem direito a recheio, um
pastel sem camarão, umas pipocas sem açúcar ou sal, a quem assiste um filme que não é seu. Convencia-se sem persuasão de que
jamais seria o dela. Uma fita crua, que não satisfazia os mais ínfimos desejos
queridos, não enquadrava e muito menos abrangeria um pouco do melhor de todos.
Voltou a casa, julgando-se suada por um suor sem odor, sem mancha
amarelada, não emanava satisfação, alegria ou tristeza. Teria coração? Batia-lhe sim, sem grande convicção.
Sentou-se sobre uma caixa vazia, olhou sem emoção pelos dois minutos em falta para um fim. O programa da máquina da roupa suja parou, suou o som, leu-se FIM.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
A minha
vida está estranha. A verdade é que tive de a conhecer. Agora, a minha vida está
tão estranha. Conto-vos, apaixonei-me por Ela, não pela vida, mas por Ela, a
que conheci. Aproximei-me e apaixonei-me por Ela, quando pela primeira vez a vi.
Estranho, como a minha vida se tornou demasiado estranha desde daí. Ainda mais a amei quando a consegui. E agora o que torna a minha vida
atual tão estranha é não a ter. A minha estória é sem história afinal, sem
princípio meio ou fim, como todas as outras histórias. Ainda assim, a estória
que é Ela, se desenrola no que sou, nesta estranha pessoa que fez de mim. Estranho, esta
pouca vida em mim. Ela é, Ela é, Ela é o reflexo que reflicto sobre esta
coisa estranha dentro de mim, Ela, que lhe digo que é vida. A minha vida.
Estranho. Será uma sombra? Uma pintura que não foi pintada ou um semblante de
tudo o que nunca começou, não se viveu meio e nunca se sentiu um fim. A minha vida é
tão generosamente estranha. Estranho...
Como era bom perder-me, desaparecer dentro de ti, como quem larga a mão de
um alguém depois de um profundo respirar e entrou. Entrou nesse teu avesso,
onde só se escuta o teu respirar e se vê essa tua forma que é de verdade
amar. No teu olhar nada vi, agora, aqui dentro de ti, nesta sombra de teus
fígados, nada é obscuro e debaixo do teu coração melódico o ritmo é outro, é
de um chegar distante é de um partir longínquo. E da parte de dentro dos vidros do
teu olhar, nem imaginas o colorido que há, do que não está aí, desse lado de lá.
Estranho por ti, porque tu nunca soubesteque tipo de noite te habita, se das escuras ou das luminosas por um
luar. Colora esse teu olhar e escuta, não desapareças feito louco sem respirar!A luz desconhecida
aproximar-se-à e as tuas mãos enrolarão num sorriso que virá de dentro, daqui deste teu oposto. E essa angustia desaparecerá e que bom corar...
00:39, marcava como um
contador de divida, no relógio em repouso sobre a pilha de revistas que fazia de cabeceira naquele quarto interior. Era noite de Santo António, o
casamenteiro. Lembrou-se que se esquecera no entretanto da vida de se casar.
Elevou a cabeça 4 cm da almofada e com algum esforço esticou o braço ao meio
copo com água perecido na extremidade encaracolada da revista Vogue já com alguns
anos de modas prescritas. Deu-lhe para a tosse no percurso da palha à boca e
julgou que em lugar de matar a sede a sede da morte a sugaria primeiro através
daquela palha parda e fétida em saliva por várias noites usada. “Calma”,
retorqui, usando a expressão do louco, seu vizinho do lado, mais novo que ela cinco anos, mas bem mais emplastrado. Ainda assim, sentiu-se feliz, por
sabê-lo a dormir do outro lado da parede e por a pílula do sono lhe ter feito efeito. Já não o ouvia, nem às ruidosas e porcas flatulências, as que ele
sabia que a levava aos nervos acabando com os já poucos fios de cabelos brancos
que lhe restavam colados ao couro, os outros, faleciam amontoados sobre o travesseiro de fronha
amarelada. Pensou em chutar-se em mais meia dúzia de valerianas, mas achou por
bem gozar mais uns minutos de vida. Respirou fundo e tragou dois valentes goles
na palha, sentiu o líquido morno e contaminado, quase com embriões, pela
garganta. Sorriu no pensar, "ainda fico grávida!" Riu e com o mesmo sorriso entrou naquele azul.
Achou que descera à terra poucos
segundos depois de ter dado entrada nos céus, nunca o imaginou, ainda assim, tão burocrático. Mas teve alta para visitar o
vale dos pouco vivos ao fim de tempo para si já impreciso. Não descansava em solo
paradisíaco sem antes vislumbrar sua lápide terrena.
Confirmara com agrado que o
cabrão do vizinho dera seguimento ao prometido e nela teve o prazer de ler:
"tenho-te no coração
desde setembro de 2012, descansa em paz nesse agora tão nosso AZUL"
Stop the world, I wanna get out!
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E exercícios vou fazer
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Toca a tocar
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T...
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Dás-me raiva?
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imagem de addicted2cyanide
Odeio-te.
Sem ponto de exclamação.
Não é um ponto que expressa a emoção.
Os sinais da raiva são muitos mais. São a vontade de te ...
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