A Minha Mulher
Todos os dias de manhã desarrolho o frasco e deixo cair umas poucas migalhas lá para dentro. Com muitos cuidados para que não fuja minha estimada mulher. As migalhas são de variados tipos de pão: broa de milho, carcaça ou baguette. Sempre gostei de estimar a minha mulher com o melhor. É com grande apreço que a paparico com carinhos. Tem dias em que sou realmente generoso e lhe deixo cair pelo tampo do frasco um torrão de açúcar. Fico regalado de a ver feliz pela prenda e vejo-a percorrer as paredes redondas do frasco em sinais de agradecimento. Outras vezes, corto frutas várias em pequenos pedaços e vejo-a lambona e de olhos arregalados, chupar o sumo doce das frutas.
Durante o dia, enquanto vou trabalhar, substituo a tampa do frasco por um coador do leite. Assim fico seguro que o ar circulará facilmente por todo o frasco e minha mulher não morrerá de calores ou asfixia. Quando regresso a casa, tenho uma grande recepção de felicidade. Minha mulher passeia-se pelas fronteiras de vidro cumprimentando-me com zumbidos que nem sempre percebo. No entanto gosto. São gestos humildes e naturais de contentamento.
Depois de jantar vemos uns programas que passam na televisão e tenho muitas conversas com ela sobre o que passa na caixa fosforescente. Poucas vezes me responde e quando o faz, é sempre em sussurros que ainda estou a aprender a interpretar. Tudo isto faz parte da convivência e da descoberta de cada um. Ocorre por vezes, um aborrecimento da minha parte quando a minha mulher se cala e esfrega as patas umas nas outras: começando nas da frente até às de trás. A falta da atenção dela para comigo leva-me a agitar o frasco e provocar-lhe uma reacção. Quando assim é, esvoaça pela vitrina do frasco e resmunga coisas sibilantes às quais não ligo.
Antes de me deitar, coloco o frasco dela a meu lado na cama e contemplo-a. Certifico-me que a tampa ficou bem apertada nas roscas e conto-lhe uma história de um livro que satisfaça os dois. Quando apago a luz sinto uma felicidade eterna em ser casado com uma mosca respeitável e obediente. E nisto olho para ela, a ver se já dorme.
Para não se tornar uma foda depreciada, vim conferir o teu novo post.
ResponderEliminarBjo em teu coração!!
E há tantas assim...
ResponderEliminarMas com Vinagre não se caçam Moscas.
Passei para matar saudades!
Beijo,
:-))))))))))))))))))) Mt boa
ResponderEliminarJota gosto sempre de te SENTIR por cá.
ResponderEliminarbeijo
Star, Star Star, quem brilha sempre aparece! Beijo-te!
Privad(o) bom és tu pá, principalmente quando ganzado porque até apareces por aqui, lol, coisas do La.
Beijoooo
Mosca... mosca não é um bom termo. Mas lamentavelmente o texto espelha muitas realidades.
ResponderEliminarO texto é perfeito sim! Há que saber escrever e existe quem sabe com mestria. Obrigada mais uma vez por tua agradável visita, menina vontade de.
ResponderEliminarObrigado pelo post Cabra Branca.
ResponderEliminarBeijos!
É um prazer aprazível Gil Maya!
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