Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pénis


Vou contar-te uma coisa, ninguém sabe, shiuuu, escuta bem... Tu tens tanto a dizer, mas estás travado, tanto a sentir a dar e a contar,  que ficas apavorado.
Olha, até começas a chorar, descansa, ninguém vê, nem tu vês que incitas tanto o sonhar só de as olhares...
Ei, pareces encurralado, tantas elas, a pedirem o teu amar. E o teu coração começa a bate forte, cada vez mais enclausurado, a garganta a secar e os lábios a pegar, e as tuas lágrimas são as que matam a sede, ao teu desejo a ao delas desesperado. E tu só soas de as olhares... Elas, as que exigem de ti, que sentem para ti, que falam de ti, e que emanam por ti, como parecendo existir por ti. Não sejas tonto! Sabemos que és torto, mas que não queres  só esse mundo a teu lençol!
Ouve, mas não te deixes abater, por aquele que tu já não és, com esse ar acertado, deixa de ser abusado, de te deixares de lado. Elas querem-te sempre içado! Mas se não sabes como fazer, não o faças por zelo, sente só a falta no apelo. Escuta a fala do teu lado, mesmo sem razão, esquece a outra opção, e porque não dizer também "Não!"?
Tem prazer, deixa-te viver, eleva no puro prazer. E elas? Deixa-as dizer, catalogar-te de murcho, frouxo ou mesmo coxo!
Faz só por prazer,
e não contes a ninguém.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Em todos os lugares o amor acaba


Comecei ontem a odiar o amor pai. Supostamente o amor seria uma coisa boa, não era assim? Porque razão não gosto mais dele? Não o quero! Ontem já não o queria e hoje já o afugento! Ele é cheio de artimanhas que me assustam e me fazem parecer que devo alguma coisa a alguém, uma dívida afigurada a dádiva! E com todo o meu bom senso e minha inteligência assumo esta posição de odiar o amor. Já o odiava ontem e por tamanho descuido foi ontem que o perdi. Perdi o amor que levava na mão, era um pacote embrulhado a papel craft envolto numa corda áspera e fina, que acabava num laço mal feito! Acho que ficou num banco de um jardim onde nunca fui, faz parte agora de uma paisagem que eu nunca vi. Quem pai? Então, o amor! É disso que te estou a falar, do amor empacotado que perdi!
“O amor...”, dizias-me tu, que havia em gentes que davam pouco do muito que possuíam, e havia os que de pouco tinham e davam inteiramente. Confiam? Ou são pessoas confiantes? Haaaa generosos da vida, querias tu me fazer acreditar! Já te disse, odeio o amor e sou bem bondosa quando o afirmo! Aquele pacote era um cofre de ferro pesado que agradeço o ter deixado por lá, naquele banco verde de jardim rodeado de flores que lhes desconheço nome. Para quê saber o nome das flores? Elas são bonitas de se ver, precisaram que lhes sabemos o nome? Disparate, mais um romantismo compulsivo!
Não! Não estou vazia mas sim a esvaziar, nunca a amargar, nem penses nisso pai. Só quero odiar o amor e pronto! Não o quero neste cheiro ou molde ou o que lhe quiseres apelidar! Quero-o com odor a uma fragrância sem nome, sem conexão, sem baptismo, sem significado tatuado. Dessa forma até me pode agradar, mas ontem perdi-o sem remorso. Odeio não ter remorsos! Odeio quem não tem lugar, como as encruzilhadas do amor sem intenção, onde se perde o sentido que se transforma na doença que é o sonhar.
Só quero odiar o amor, sem apontamentos trágicos. Sem abraços de eternidade que sabemos não existir. Nada é eterno, o amor também não, o amor é uma intenção, uma predisposição. E eu não estou bem disposta com ele.
Hahahaha, pai nem imaginas, estou a ver o pacote do amor lá onde o esqueci, no banco, no tal, não sei quê jardim. E são quase seis da tarde está a noite a querer chegar. Está um senhor de tenra idade a telefonar do seu telemóvel para a esquadra local. Imagina pai, suspeita de uma bomba relógio. E se é pai, se é... é o pacote do amor, embrulhado num papel tão simples e enlaçado a guita tão pouco nobre...


"Em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba." Paulo Mendes Campos

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Margem


Se for eu uma passagem, quero que saibas umas coisas, tantas de quem já sabe;
se o meu brilho ofusca na maior noite de luar,
se o meu jeito reguila enche um dia de neblina,
ou mesmo um só meu olhar,
minha pose ou forma de estar,
embebeda quem nem se ousa a encarar,
sem toque, nem afronte, sem confronto minimal,
então eu sou,
sou a tua bola de cristal,
onde vês um mar fresco no verão,
um abraço de outono,
suave vento a acalmar,
um inverno frio amornado,
ou a primavera a mão dada, suja e salpicada,
sou quem te refresca, te aquece, te pinta na paisagem,
sou o teu lume, a água, o vento sem lamento, a terra com raiz,
sou a tua mulher inteira,
sem esquema ou gadelha,
imparável, acreditada,
impagável, amada,
impalpável, sonhada.
Sou tudo o que renegas,
e tudo o que te leva a ti,
sou o teu barco que por si navega,
sou tudo menos uma espera,
sou o que existe a quem se entrega.
Assim percebes agora,
não sou a tua margem,
esse bilhete é noutra paragem,
ouve,
se for eu uma passagem,
esquece o preço desta viagem
e percebe a mensagem.
Mas se de súbito te parecer me quereres,
és vasto e louco,
pois acredito já pouco,
duvidaste, hesitaste, mesmo paraste,
e no vento abanaste a minha barca abalada,
queres-me à margem,
e o meu coração do lodo desse rio partiu,
nesse dia, nessa hora à procura de outra aurora.
Se me eras destinado,
não fiques baralhado,
vais aqui,
navegado a fogo içado,
em mim nada se assola ou se larga,
o meu amor é amado,
marinado, nestas águas velejado,
não são turvas, nem translúcidas,
é um mar a ser estimado.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

há mau...


há minutos marcantes, como corrompidos,

há horas alegres, como estragadas,
há dias intensos, como angustiados,
há meses satisfeitos, como deturpados,
há anos inteiros, como desgastados,
há lágrimas de alegria, como de tristeza,
há beijos amados, como arrancados,
há abraços envolventes, como despedidos,
há sentimentos grandiosos, como dolorosos,
há palavras apetecidas, como enganadas,
há quereres conquistados, como dissimulados,
há estado de sucesso, como de falido,
há amores prometidos, como envenenados,
há bons devaneios, como ânsias disfarçadas,
há momentos de glória, como mágoas em voltar
há,
sou um há!
e quero tanto acordar, desta noite de finados.